O caos na administração da pandemia em BH

Comparada a um governo federal criminoso e a um governo estadual incompetente, a administração da pandemia pelo prefeito Kalil parece boa, mas é apenas responsável. Um ano de medidas de distanciamento social deixou Belo Horizonte numa situação caótica. Depois do enorme sacrifício imposto à população, os números da doença não são melhores, ao contrário. A situação não está sob controle, a política adotada não foi eficaz e a prefeitura reabre a cidade hoje, dia em que o número de mortos ultrapassou 4.000 e, mais grave, 812 só neste mês.

Nessas condições, reabrir o comércio e outras atividades no momento em que o número de mortes aumenta parece uma capitulação e não uma decisão ponderada. As novas regras não fazem muito sentido e dão a impressão de que as antigas também não faziam, que nunca fizeram.

Pode-se afirmar a favor do prefeito e da sua equipe que a pandemia é uma situação nova para a qual não havia experiência governamental e que a administração municipal seguiu as orientações da Organização Mundial da Saúde. São fatos, mas também são fatos que a cidade está semidestruída e que milhares de belo-horizontinos morreram, dezenas morrem ainda diariamente. Kalil agiu de forma responsável, o que é um grande mérito, diante da irresponsabilidade criminosa dos governos federal e estadual, mas não foi competente. Não sei se outras cidades brasileiras se saíram melhor, mas outras cidades ao redor do mundo com certeza foram administradas com mais competência na pandemia.

O prefeito não teve coragem – ou meios, talvez, mas de qualquer forma não foi capaz explicar isso satisfatoriamente à população – de enfrentar um dos maiores focos de transmissão da covid-19, o transporte público. Sem isso, o combate à pandemia é quase de mentirinha e outras medidas penosas são inúteis. Fechar clubes, parques e praças, espaços em que a população pratica esportes e cuida da sua saúde (física e mental), ao ar livre, é uma decisão despropositada que só pode ter sido tomada por quem não anda na cidade nem pratica esportes.

Enquanto a população é impedida de cuidar da saúde, é obrigada a se aglomerar em ônibus lotados. O que propaga mais o vírus? A resposta é óbvia.

Também não é razoável fechar escolas e até o comércio, de forma indiscriminada e prolongada. A experiência de outras cidades e países mostra que o que dá resultado é fechar tudo, pra valer, durante pouco tempo. Afora isso, o que a prefeitura precisava fazer – e precisa ainda, porque a pandemia está longe de acabar – era zelar: 1) pela boa comunicação com a população, de forma a se saber o que a prefeitura está fazendo e o que a população deve fazer; 2) pela não ocorrência de aglomerações em ambientes fechados, começando por resolver o problema do transporte coletivo; 3) pela sobrevivência da população sem emprego e sem renda; 4) pela vacinação urgente; 5) pelo atendimento médico e hospitalar de todos os infectados.

O distanciamento social indiscriminado e prolongado, como temos, não é eficaz e é péssimo, principalmente porque não acontece, nunca aconteceu de fato.

(Na foto, Kalil sendo vacinado na velha Fafich. Crédito da foto: Amira Hissa / PBH.)

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